01/06/2020
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA, UM CAMINHO VIRTUOSO
O alto custo e a variação das tarifas de energia nos últimos anos vem motivando cada vez mais as empresas de saneamento a adotarem medidas de eficiência energética. Em regra, as companhias do setor são responsáveis pelo consumo de 2,5% a 3% da energia elétrica produzida no país, representando 18% do total das despesas nas companhias de saneamento brasileiras. São as chamadas “indústrias energívoras” que necessitam desse insumo para operar seus sistemas de tratamento e bombeamento de água e esgotos.
Somente em 2018, as despesas e o consumo de energia elétrica dos prestadores de serviço de saneamento, de acordo com o último diagnóstico disponível do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), atingiram respectivamente R$ 6,19 bilhões e 12,9 TWh.
O engenheiro Antonio Accorsi, coordenador do Programa de Gestão de Energia Elétrica da Corsan, iniciado ainda em 1999, em entrevista à página h2o.eco explicou que os equipamentos devem executar o bombeamento dos volumes requeridos com pressão e vazão adequadas e, para tanto, devem superar as perdas de carga nas tubulações e a força da gravidade, entre outros fatores. Em média, segundo ele, a força motriz é responsável por 95% de toda a energia consumida nas empresas de saneamento.
Entre as diferentes medidas de eficiência energética implementadas pela Corsan, Accorsi destaca a adequação das condições contratuais do fornecimento de energia; a correção do fator de potência e o gerenciamento de demanda; a adequação dos dispositivos de manobra e proteção dos motores elétricos; o desempenho de motores e bombas e o uso de inversores de frequência para variação de velocidade.
Desde então, a empresa vem obtendo redução de custos, tanto em manutenção como no consumo de energia nas unidades beneficiadas com investimentos em eficiência, sempre com o índice de kWh/m3 como indicador do cumprimento das metas. Além do mais, a companhia está atenta para o fato de que os gastos com energia elétrica adquirida no mercado cativo aumentam significativamente devido ao realinhamento e reajustamento tarifário das distribuidoras e aplicação das bandeiras tarifárias que impactam diretamente empresas com altos consumos. Soma-se a isso, o crescimento dos sistemas e a entrada em operação de novas unidades de tratamento e bombeamento.
Esse processo culminou com a entrada da companhia no mercado livre de energia ao final de 2019, quando por meio de licitação, na modalidade de leilão de menor preço, foram contratadas as empresas Banco BTG e Pactual S.A. para o suprimento de energia convencional à maior unidade consumidora de energia da companhia, em Alvorada (RS), com carga total de 2 MW; e Brookfield Energia Comercializadora, com energia incentivada para 56 unidades em todo o RS. De acordo com as estimativas, no decorrer do período dos contratos está previsto um ganho de aproximadamente R$ 280 milhões em média - portanto R$ 28 milhões/ano, o equivalente a 10% em relação às despesas anuais com energia.
Accorsi destaca que as companhias brasileiras de saneamento vêm se beneficiando e contribuindo sistematicamente, seja com recursos próprios ou com parcerias com as empresas distribuidoras de energia elétrica, em pesquisa e desenvolvimento de eficiência energética. Paralelamente, ainda segundo o engenheiro, é importante acompanhar e participar das ações promovidas pelo Programa Nacional de Eficiência Energética em Saneamento Ambiental (Procel Sanear) das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás) - a mesma empresa que construiu os LENHS (Laboratórios de Eficiência Energética e Hidráulica em Sistemas de Saneamento), implantados nas universidades federais do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Paraíba e Rio Grande do Sul, e que tem como objetivo principal desenvolver pesquisas para o combate ao desperdício de água e energia.
Entre as evoluções tecnológicas do setor, Accorsi cita a engenharia de automação e controle como destaques. “As constantes inovações de produtos e sistemas parecem não ter limites. Além do mais, essas tecnologias causam um impacto positivo em todos os setores da economia. No saneamento, especificamente, está consolidada a engenharia de automação na utilização de controladores lógicos programáveis, sistemas de comunicação, sistemas de supervisão e controle e de instrumentação analítica”, acrescenta.
Ele prossegue: “Por meio da internet e da tecnologia digital os dados gerados pelo conjunto de instrumentação e equipamentos podem ser conectados e convergem para um sistema de supervisão e controle dotado de softwares dedicados. Este, por sua vez, permite ao operador a visualização das principais variáveis de processo como pH, oxigênio, volume, pressão, vazão, condutividade, nível, corrente, tensão e potência, resultando em manobras operacionais, remotas ou não, rápidas e eficazes - acionamento de motores e bombas, abertura e fechamento de válvulas - e o monitoramento dos processos de produção de água e tratamento de esgotos”.
Lembra ainda que é possível ter esse tipo de informação e controle na palma da mão, durante as 24h do dia. “Nessa mesma linha, modernas tecnologias em instrumentação analítica laboratorial e de processos impactam positivamente a operação de ETAs e ETEs por meio do controle online, trazem benefícios não só para a eficiência energética como também para o uso racional de produtos químicos”.
Para concluir, Accorsi diz que não poderia deixar de destacar os motores elétricos de alto desempenho que, analogamente, são os robôs eletromecânicos das empresas de saneamento. “Quando acionados por dispositivos eletrônicos denominados inversores de frequência - também em constante evolução, o conjunto atua diretamente no controle da pressão e vazão do sistema ao variar a velocidade das bombas centrífugas. Em sintonia com o motor elétrico, o inversor seleciona a corrente elétrica ideal para a carga solicitada, promovendo ganhos energéticos significativos”, ensina.